sábado, 11 de agosto de 2018

AO JOVEM ESTUDANTE

AO JOVEM ESTUDANTE
Por Íris Mendes
Hoje quero descartar o uso da palavra aluno, de significado negativo, pois aluno significa aquele que não tem luz. Trata-se de um termo que entende o jovem como um pólo passivo, apenas depositário dos conhecimentos supostamente monopolizados por seus mestres. A aprendizagem, porém, é um processo interativo, uma via de mão dupla. Você jovem não é uma “tábula rasa”. Contribui com suas potencialidades, visão de mundo, sensibilidade e capacidade de ressignificação da realidade. Também é um produtor de conhecimento. E vossos mestres também são eternos aprendizes, estudantes. Como dizia Guimarães Rosa: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. 
E afinal quem ensina quem?
Para a professora doutora Vânia Maria Resende
“ensinar envolve um trabalho intenso de troca de experiências que nem sempre informa só ao aluno.
Quantas vezes o professor precisa ler sobre determinado assunto para dar uma resposta, ou seja, uma aula, para responder à dúvida de uma criança, para esclarecer uma nova informação?
Quantas vezes sentimo-nos inseguros quanto a um conteúdo e precisamos esclarecê-lo com colegas ou recorrer ao dicionário para escrever determinada palavra?
Quantos cursos; quantas palestras e apostilas são necessários para que estejamos atualizados e interados do processo educacional? Quanto nossos alunos nos ensinam? Quanto nós aprendemos com eles? Afinal, quem ensina a quem?”

Nossos alunos têm sim, muita luz! Todos nós somos estudantes! Todos nós, alunos e professores, somos estudantes e somos amigos, no exercício de aplicar a inteligência para aprender e viver, ter a alegria de realizar descobertas e encontrar soluções e respostas sobre a vida, o homem, a sociedade, a natureza, etc.; e construir nossa intelectualidade, a fim de conquistar espaço, ter oportunidades, transformar o tempo em realizações, temporalizar a vida. 
Por outro lado, independente de a escola ser o espaço do trabalho em grupo, a primeira grande experiência social do cidadão e o espaço do nascimento de grandes amizades ou mesmo do amor, “a busca do conhecimento é uma estrada solitária”, diz Paulo Freire. E de fato, porque somos, não obstante a quem nos ensina, sujeitos da nossa própria aprendizagem, senhores da nossa vontade. Padre Fábio de Melo diz: "Quem nos acorda não é o dia, são as intenções. É no contexto de nossas vontades que a vida multiplica ou subtrai."
A busca do conhecimento e da sabedoria é também um processo contínuo, que nos acompanhará e durará até a velhice. Somos, então, estudantes para além da escola, seremos estudantes pela vida afora.
Estudar é trabalhar. Precisamos buscar a sabedoria como quem lavra e semeia, esperando pacientemente pelos frutos. Estudar é plantar o futuro, com alguma pena e dureza no cultivo da terra do conhecimento, mas com a esperança de em breve colher excelentes frutos.
Você, estudante, é depositário da fé e das esperanças do mundo e das gerações que nos antecederam e nos deixaram como presente, como legado, o conhecimento necessário à transformação, desenvolvimento e sobrevivência humana.
Você é necessário para que a sociedade colha através de sua vida e atuação consciente, os frutos de sua existência, de sua história. Que sejam frutos de igualdade, justiça, paz e convivência fraterna.
Você é depositário das melhores expectativas de sua família, de seus professores, do país e de todos que aspiram por um mundo melhor.


Abraços!
Professora Íris Mendes
P. S.: Fiz esse discurso em 2010 ou 2011, não lembro bem, em homenagem aos alunos do C. E. Santos Dumont. Continua atual. Fiz apenas um pequeno acréscimo: a contribuição do sábio Pe. Fábio de Melo.

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